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A Sociedade do Cansaço

Vivemos uma época de velocidade e esgotamento, que se trata de uma forma precisa de transmitir para o público desconhecido o aspecto tenebroso da valorização de indivíduos inquietos e hiperativos que se arrastam realizando múltiplas tarefas.

foto de um rapaz de uns 40 anos debruçado sobre a mesa do escritório, de frente ao computador com gráficos na tela; o rapaz está com a mão na frente dos olhos, que estão fechado, e com cara de cansaço.

Hoje, vivemos em uma sociedade repleta de sofrimentos psíquicos, conhecidos também como desvio neuroquimicos, que promove a violência neural.


Síndrome de burnout , transtorno de déficit de atenção, ansiedade, hiperatividade e depressão, são apenas alguns dos problemas que são maximizados a cada década pela nossa sociedade.


Quando falamos de violência neural não estamos falando, necessariamente, de algo negativo, mas sim, dos processos “motivacionais" impostos pela nossa sociedade, que também é caracterizada como a “sociedade do controle”, da “biopolítica”, do “capitalismo cognitivo" e da “economia material".


O ex-presidente estadunidense, Barack Obama, expressava com precisão o excesso de positividade da sociedade do desempenho, onde já se propagava a uma falsa liberdade ao impor aos indivíduos e a velocidade de superação. O filme “O Cisne Negro” de 2010, já retratava a imposição da performance e do desempenho mediante a autossuperação é incorporada pela protagonista e levada a suas últimas consequências.

Ou seja, a autossuperação postulada em "yes", é capaz de extrair toda a potência e eficácia insuspeitas ao próprio sujeito, ainda que o custo da autossuperação possa ser a autossupressão.


Com o deslocamento da negatividade para a positividade, as pessoas adeptas ao desempenho de forma mais rápida e eficiente, acabam sendo desobediente consigo mesmas e com aqueles que fazem parte do seu ecossistema e ambiente social. Afinal, a obediência, agora, é interpretada como transgressão.

As pessoas se encontram vinculadas necessariamente à repressão e à negatividade, com a sensação neoliberal do desempenho é dominada hoje pelo excesso de positividade.

O excesso de positividade conduz o indivíduo, de forma inexorável, ao esgotamento típico dos sofrimentos psíquicos que lavam a nossa sociedade à síndrome de burnout e a depressão.


A sociedade do desempenho produz mais pessoas depressivas e fracassadas como nunca visto antes. As pessoas são movidas e manipuladas por palavras como “projeto”, “motivação”, “iniciativa”, “eficiência”, “flexibilidade”, entre outras.


O déficit de atenção associado à hiperatividade constitui em sérios transtornos mentais que levam muitas pessoas entre 30 e 50 anos sofrerem infartos.


A hiperatividade é valorizada sutilmente no próprio Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM) da Associação Psiquiátrica Americana, como referência mundial para a prática clínica e as pesquisas epidemiológicas, é responsável por estabelecer cientificamente a distinção entre conduta normal e patológica.

Em 1878, Nietzsche já dizia: "nossa civilização caminha para uma nova barbárie…”.

E analisando o comportamento humano, totalmente desenfreado, vemos a hiperatividade contemporânea como uma espécie de esgotamento espiritual dos nossos dias, rumo a barbárie.

As pessoas, então, não tem mais a consciência de respeitar os direitos humanos e fazer valer a constituição e regras impostas no país que habita.


O sentimento de “liberdade” e de “autonomia”, a partir do qual explora a “criatividade”, o “desempenho”, a “inovação”, a “boa vontade”, a “iniciativa individual” e a “flexibilidade”, promove a ascensão do sujeito narcísico, faz com que o indivíduo viva constantemente num sentimento de carência e de culpa e, em muitas vezes, está exposto a um conflito interno buscando a superar-se a si mesmo. O sujeito de desempenho realiza-se na morte, afinal, os ato de realizar-se e autodestruir-se, coincidem.


A veiculação de discursos empresariais e mensagens da indústria cultural, além da propagada “autorrealização” conduz o indivíduo à autodestruição. Vivemos em uma sociedade pós-disciplinar que absolutiza desempenho e a produção. Os adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal.


Na sociedade do desempenho, ação e identidade são reduzidas à esfera do trabalho e da produção. O sistema capitalista, pós-marxista, mudou o registro da exploração estranha para a exploração própria, a fim de acelerar o processo, ou seja, a sociedade de desempenho predomina a autoexploração. Eu próprio exploro a mim mesmo de boa vontade na fé de que possa me realizar. E me realizo na direção da morte. As pessoas vivem a ilusão de liberdade é o mercado e sua lógica performática.


Uma vez que o aperfeiçoamento das habilidades ilimitadas para o sucesso profissional é lançado ao infinito, temos a elevação na condição da saúde a “histeria” ou “mania de saúde” a “histeria” ou uma perseguição patológica de “mania de saúde”.

Se, por um lado, a “vitória” pode ser alcançada mediante tal condicionamento, por outro, o sujeito depressivo atual figura como o único responsável por seu fracasso. Em uma sociedade clivada que produz “perdedores” em série, o depressivo é o sujeito que está cansado, esgotado e exausto de si mesmo, de lutar consigo mesmo. O excesso da positivação pode ser vista autoagressividade, pois inibe a reflexão proveniente da “atenção profunda” e conduz o sujeito à hiperatividade superficial e fatal. O cansaço “habilita o homem para uma serenidade e abandono especial, não se fazendo sereno, e mais próximo da angustia, o levando para o luto.

A presença constante de estímulos tende a impedir o desligamento das pessoas, mas sabemos não há um estado real de repouso para a mente humana. A sociedade do cansaço atual nada mais é do que a absolutização unilateral da “potência positiva”.


Segundo o antropólogo americano, Marshall Sahlins, "um povo que concebe a vida exclusivamente como busca da felicidade só pode ser cronicamente infeliz”.


[...] "um povo que concebe a vida exclusivamente como busca da felicidade só pode ser cronicamente infeliz”

Nossa vida anda num impactante trabalho de desassossego.





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