A televisão e a representação da realidade

A ideia da Televisão (transmissão de imagens a distância) remonta à segunda metade do século XIX. Em 1865, o italiano Maliano Giovanni criou um aparelho para transmitir desenhos e sinais gráficos pelo telégrafo, ao qual deu o nome de pantelégrafo. Esse sistema deu origem à telefoto, que se tratava de transmissão de sinais estáticos, e mais tarde surgiram os experimentos que geraram a ideia de televisão como conhecemos hoje: a imagem em movimento.
Além da tecnologia, muitos dos códigos significantes que hoje são usados na televisão derivaram de processos semelhantes operados no rádio, no cinema, no teatro e, mais recentemente, das mídias cibernéticas. A partir dessa construção, podemos dizer que esses suportes são resultantes dos fenômenos culturais que se refletem no desenvolvimento e controle das técnicas de produção, criando equipamentos potentes e capazes de registrar situações de uma forma cada vez mais fiel à realidade que vivemos (e, em alguns momentos, até de ultrapassá-la).
A televisão assumiu, por muito tempo, o papel de mediadora da realidade para com o público. O filme, quando exibido em uma sala escura, requer a atenção concentrada de todas as pessoas. A única fonte de luz é a tela e a atenção é direcionada para ela. Já a televisão compõe o ambiente doméstico e é impossível dedicar total atenção ao programa televisivo (ou não) sem observar, ao mesmo tempo, a composição do ambiente. Além disso, a definição da imagem do cinema, o tamanho da tela de exibição, serve melhor ao propósito de ser representação da realidade enquanto a televisão é vista como uma janela de mediação.
Provavelmente você já deve ter ouvido falar das pessoas que davam (ou dão) “boa noite” para o jornalista William Bonner durante o Jornal Nacional. Esse é um exemplo prático de como não apenas vemos o mundo pela televisão mas, às vezes, nos esquecemos de que se trata de um aparelho e a interação acontece.
O papel de mediação do aparelho televisivo faz com que os elementos de linguagem se reorganizem e trabalhem a seu favor para evidenciar essa relação com a realidade, principalmente em suas transmissões ao vivo.
O que vemos na tela da televisão acontece neste momento, agora, e o cenário que vaza na tela, a câmera que aparece, o cabo do microfone, apenas servem para garantir essa continuidade. A televisão amplia o potencial dessas técnicas, por exemplo, ao exibir na tela o logotipo de “ao vivo”.
Por isso, na transmissão ao vivo principalmente, dizemos que a televisão opera processos abertos. Segundo Machado, o melhor material para um programa de TV é aquele que permite improvisos e acasos, pois é a partir daí que o espectador reconhece a TV como aparelho mediador. Dessa forma, os erros e acertos que vão ao ar acabam por definir uma referência para telespectador que difere do real representado pelo cinema.
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