Como nasceu o cinema?
Afinal de contas, como nasceu o cinema?
O cinema não “nasceu” do nada. Foi a tecnologia que deu origem ao cinema. Ou seja, veio de uma vontade muito antiga do ser humano de registrar e reproduzir as imagens vistas pelo olho e reconstruídas em nossa imaginação.
No século XVII, por exemplo, a vontade de reprodução e a tecnologia da época se uniram no teatro criando espetáculos baseados na relação e interação do ator com a luz e a sombra, esse processo ficou conhecido como fantasmagoria. Um tipo de espetáculo baseado numa série de acontecimentos envolvendo mudanças drásticas de intensidade de luzes e cores; e também muitas vezes interpretado como um estado abstrato, onde o real e o imaginário se misturam, desenvolvido por um mágico ilusionista belga chamado Étienne-Gaspard Robert.
Robert desenvolveu um show baseado nesse sistema de projeção, utilizando também de outros efeitos e técnicas. As cenas envolviam atores e ventriloquismo junto às projeções, criando uma impressão de forma fantasmagórica. Foram usados diversos dispositivos na projeção para dar à imagem uma aparência mais translúcida. Outros elementos, como o teatro de sombras e a lanterna mágica, tentavam criar a impressão de movimento. É a partir desse desejo, tão intrínseco ao ser humano, que foi desenvolvido o cinema.
Entre a virada do séc. XIX para o séc. XX, Paris se tornou a “Capital do Mundo” com o florescimento da ciência e da sociedade que conhecemos hoje. Todos os experimentos científicos, para que tivessem um impacto na nossa sociedade da época, precisavam ser apresentados lá.
O cinematógrafo teve sua patente registrada em março de 1895 pelos irmãos Lumière e sua primeira exibição pública ocorreu em dezembro do mesmo ano. Auguste e Louis Lumière realizaram a primeira demonstração pública em um café, exibiram “A Chegada do trem à estação” (1895), deixando os espectadores assustados e perplexos com o evento.
O cinema surge em um momento de extrema expansão tecnológica, e marca a “Era da Reprodutibilidade Técnica” da obra de arte, analisada anos mais tarde pelo filósofo, sociólogo e crítico literário Walter Benjamin (1892-1940). Cenas do cotidiano, como “A chegada do trem” (1895) ou “A saída da fábrica” (1895), gravadas pelos Lumière, se tornam objetos de espetáculo: a realidade, a vida comum, se espetaculariza diante de quem assiste. O público assiste ao espetáculo de si mesmo, imerso que estava nesse contexto técnico.
Outros fatos que influenciaram e marcaram a virada de século também ajudaram a definir bem o que o cinema se tornaria: a invenção do telégrafo sem fio e, posteriormente, do rádio. O cinema, ao transformar a vida pública em espetáculo, agarra para si a autenticidade em reproduzir a realidade. Ganha, assim, um papel de promotor de releitura histórica, de simulador de situações que podem ser tomadas como verdadeiras graças à confusão entre simulação e realidade. Seja como representação do real ou como fantasia gravada. Antonio Costa salienta que “no plano das técnicas de narração e de linguagem se observa uma modernização” (2003, p. 131), e a estética do cinema começa sua evolução de linguagem baseando-se no desenvolvimento da técnica e dos equipamentos que a tornam possível.
Câmeras mais leves e portáteis, o campo de visão – antes “limitado” –, se torna retangular acompanhando o ângulo de visão do ser humano e o trazendo para uma imersão mais completa do filme (pois agora assistimos a uma produção não apenas observando um ponto fixo no centro da tela, mas o desenvolvimento da informação também com nossa visão periférica).
Cada avanço tecnológico resultou em uma mudança e adaptação da linguagem audiovisual que o representava de forma coletiva. Inclusive durante a transição das técnicas de reprodução químico-mecânica da imagem para a eletrônica.
Com o surgimento da televisão, houve uma nova adaptação de linguagem levando o público a diferenciar os elementos segundo as formas em que eles eram exibidos e tornando o processo cada vez mais enraizado em nossas práticas sociais e o cotidiano.
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