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O que são Elipses?




A elipse é um termo derivado da literatura que significa supressão, omissão, deleção. É um processo de escolha de fragmentos da realidade a fim de suprimir os tempos considerados mortos ou fracos de uma narrativa. Esse processo pressupõe um deslocamento de tempo dentro das ações por meio da escolha dos elementos significativos dentro do plano e a ordenação numa obra.


Durante a produção de uma peça audiovisual, o diretor indica quais ações serão registradas pela câmera. Nesse momento, ele faz a seleção do que será mostrado e também indica o que não será mostrado, mas que tem importância para a história.


Pegue como exemplo uma cena de um filme na qual o personagem começa seu dia: normalmente o vemos acordando, depois no banheiro escovando os dentes e, em seguida, tomando café na cozinha e, por fim, corta para o personagem no ponto de ônibus esperando o transporte que o levará até o trabalho.


Apenas com esses fragmentos de ações não ficou claro que o personagem, para escovar os dentes, precisou se levantar da cama e caminhar até o banheiro? E que para que possamos vê-lo tomando café ficou implícito na cena que depois de sair do banheiro ele caminhou até a cozinha, colocou água para esquentar, passou o café e só depois começou a tomá-lo? E que para chegar ao ponto de ônibus ele precisou terminar o café, colocar uma roupa de trabalho, sair de casa e caminhar até o ponto?


Essas informações que estão “ocultas” é o ato de promover as elipses. Ou seja, a partir das indicações das ações, os espectadores conseguem entender o que aconteceu sem que seja necessário mostrar todos os pontos e detalhes. As ações não deixaram de existir, apenas não são importantes para a narrativa.


As elipses acontecem por meio da seleção dos planos visuais para criar ritmo e suspense à história. Para tanto, suas indicações (ou intenções) devem ficar claras na narrativa de uma forma que a imaginação e atenção do espectador coloquem de volta na trama essas partes que a deixariam chata ou sem muito apelo para o envolvimento do público. Existem dois tipos de elipses desenvolvidas numa produção audiovisual: a elipse de conteúdo e a elipse de estrutura.


Elipse de Conteúdo

Na elipse de conteúdo, geralmente não mostramos parte da cena ou ação, ou em alguns casos suprimimos a cena como um todo, pois essa cena não é relevante para a narrativa. Um exemplo desse tipo de elipse é o filme “2001 – Uma odisseia no espaço” (1968), do diretor americano Stanley Kubrick, até hoje considerado uma das maiores elipses de conteúdo da história do audiovisual.


De uma forma bem resumida (se é possível fazer um resumo desse filme) a história apresentada é a do Dr. David Bowman e outros astronautas que partem numa missão espacial, na qual acontece uma série de eventos que leva os personagens humanos a entrar em conflito com a inteligência artificial que controla a nave espacial. A intenção desse filme é discutir a evolução humana, tecnológica, a inteligência artificial e a vida fora do planeta Terra.


Logo no começo da narrativa, o diretor nos mostra o começo da evolução humana segundo as teorias evolucionistas de Charles Darwin: vemos a famosa cena dos macacos descobrindo o fogo e aprendendo a manusear o osso como uma ferramenta técnica e também como uma arma. Seguindo essa sequência, o osso é lançado ao ar e se transforma em uma nave espacial orbitando em volta da Terra.

Basicamente, o diretor excluiu do filme todo o processo de evolução dos seres humanos que está contido entre essas duas ações. Não foi necessário mostrar as revoluções industriais ou as guerras mundiais para entendermos que essa situação se passa no futuro, e um futuro baseado na evolução que estamos vivendo agora, inclusive. A elipse aqui deixou claro os fatos que ocorreram no passado e como esses fatos foram importantes para entendermos o presente fílmico.



Outra motivação que existe para uma elipse de conteúdo é quando precisamos fazer uma censura social, ou seja, ajustar o conteúdo apresentado indicando o ato, mas sem precisar mostrá-lo. Vemos muito desse tipo de construção em filmes que contêm cenas de sexo, morte ou tortura. Esse tipo de elipse pode ser criado pela indicação inicial do que vai acontecer em um plano e a representação do final da ação em outro plano em seguida. Imagine a seguinte cena: dois personagens entram no quarto aos beijos e tirando suas roupas, quando a câmera acompanha e se fixa em uma das peças de roupa que é jogada no chão. Quando o plano se abre novamente, vemos os mesmos dois personagens deitados na cama: enquanto um dorme, o outro fuma um cigarro, olhando para o teto de forma reflexiva. Toda a cena de sexo foi eliminada, mas o espectador sabe que ela existiu.


Outra forma de usarmos a elipse de conteúdo é quando temos a substituição de um elemento visual por outro e, assim, além de promover o deslocamento de tempo, também trabalhamos com a aproximação simbólica da imagem. Esse recurso pode ser usado quando o autor pretende “suavizar” uma cena muito brutal ou construir a cena de uma forma poética.


Imagine o seguinte exemplo: Uma personagem se encontra no parapeito de um prédio de 40 andares, ela está em pé depois da área de contenção observando a calçada e as pessoas andando calmamente lá embaixo. A câmera mostra a personagem mais umas duas vezes e intercala essa imagem com seu ponto de vista observando o chão e a distância. Na quarta vez que a câmera mostra nossa personagem, a vemos pulando em direção à calçada. Nesse momento acontece um corte de câmera e, em vez de vermos a pessoa no chão cheio de sangue por conta da queda, na verdade vemos um buquê de flores sendo jogado em cima de um túmulo no cemitério com o nome da pessoa que se jogou. Percebam que, aqui, a ação que o personagem fez e que resultou em sua morte foi rapidamente substituído pelo momento pós-sepultamento para indicar ao espectador tudo o que aconteceu entre esses dois pontos, mas de uma forma mais rítmica e apenas apontando os pontos mais relevantes para o andamento da narrativa.

Elipse de Estrutura



Essa ocultação pode ser produzida por um outro objeto, que esconde a outra peça em todo ou em parte; pela substituição da ação pela imagem do rosto que a observa; pela utilização de sombras e reflexos dos personagens no lugar deles próprios; uma evocação sonora (como um grito) que substitui a imagem.


Na maior parte dos casos, a escolha do tamanho do quadro ou o movimento de câmera são os elementos técnicos que provocam a elipse. Em outros, o processo de montagem se encarrega disso. No próximo capítulo, você conhecerá os conceitos básicos da Linguagem Audiovisual.


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Guga Gonçalves, foto.jpg

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