Técnicas de Leitura e Interpretação de Textos
Existe algo que você possa fazer para melhorar a sua interpretação? Sim: ler. Mas aí você deve estar pensando: “então realmente não tem jeito: não leio porque não entendo e não entendo porque não leio! Sempre odiei aquelas leituras obrigatórias que me eram passadas na escola!”.
As leituras obrigatórias acabam tendo um resultado contrário ao esperado: afastam os alunos dos livros. Por quê? Porque somos pessoas muito diferentes e o que agrada a uma pessoa não vai, necessariamente, agradar às demais. Além do mais, é muito difícil que nos dias de hoje uma criança ou adolescente sinta algum prazer ao ler Machado de Assis (por mais que eu o adore).
Quer saber o meu segredo? Leio aquilo de que gosto. Sem preconceitos. Escolho um livro e começo a ler. Gostei, continuo. Não gostei, procuro outro. O mais importante no início é criar o hábito. Depois disso, você acaba se tornando um leitor mais seletivo e refinado e até, quem sabe, adorando Machado de Assis como eu.
Então, não perca mais tempo. Vá agora mesmo a uma biblioteca, sebo ou livraria e escolha um livro. Com tantos livros escritos em português, é impossível que não encontre algum pelo qual se apaixone.
O QUE É INTERPRETAR UM TEXTO?
Segundo o modelo comunicativo de Jakobson, ao produzir um texto, o emissor “traduziria” suas ideias em mensagens, e o receptor, conhecendo o código, poderia reconstituir essas ideias. Se isso fosse verdade, ninguém teria dificuldade em interpretar textos.Bastaria ser alfabetizado e conhecer o código.
Também precisamos tomar muito cuidado com comentários do tipo: “cada um tem a sua interpretação e essa é a minha”.
"Uma interpretação só pode ser considerada válida se o leitor conseguir justificar, com elementos do texto, por que chegou o tal entendimento."
Perceba que a responsabilidade pela compreensão do texto não é apenas do leitor ou apenas do autor. Ela é compartilhada pelos dois.
ESTRATÉGIA DE LEITURA
Leitura é uma questão de hábito e de técnica. Quanto mais lemos, mais fácil fica o processo em que executamos várias operações mentais que chamaremos de estratégias de leitura. Elas são utilizadas mais ou menos ao mesmo tempo, normalmente não temos consciência disso. Ler não é um ato mecânico, mas sim um processo ativo. A mente filtra as informações recebidas, interpreta essas informações e seleciona aquelas que são consideradas relevantes. O que se fixa em nossa mente é o significado geral do texto.
ESTABELECER OBJETIVOS
Quando lemos por nosso próprio interesse, fica muito fácil estabelecer objetivos. Por exemplo, estou planejando uma viagem para a Índia e, antes de ir, quero informações sobre o país.
Os problemas aparecem quando temos que ler para cumprir uma obrigação do trabalho ou de uma disciplina, por exemplo. Se não tivermos bem claros os objetivos, ficaremos perdidos e teremos dificuldade em compreender o que lermos.
SELEÇÃO
Depois de estabelecer os objetivos, separaremos os trechos mais interessantes daqueles que podem ser “pulados”. Essa seleção pode ser feita usando duas estratégias:
SCANNING
Passamos os olhos rapidamente pela página atá encontrar aquilo que procuramos.
SKIMMING
ANTECIPAÇÃO
Também é conhecida por formulação de hipóteses. Trata-se de “pistas” presentes em todos os textos:
Veículo: é o local onde o texto está escrito: jornal, revista, outdoor etc. |
Imagens e elementos gráficos: a linguagem não verbal contribui para a construção de significados. |
Autoria: define o lugar social ocupado pelos interlocutores - o tema, a abordagem, o ponto de vista, o grau de confiabilidade das informações. |
Data e lugar: é importante levar em conta o contexto histórico. |
Gênero textual: modelo de enunciado, relativamente estável, que usamos todos os dias para interagir uns com os outros. |
INTERFERÊNCIA
É uma estratégia de leitura usada para recuperar implícitos no texto (os pressupostos e os subentendidos que já foram abordados nessa disciplina).
Boa parte do conteúdo de um texto pode ser antecipada ou inferida em função do contexto: portadores, circunstâncias de aparição ou propriedades de um texto.
O contexto, na verdade, contribui decisivamente para a interpretação do texto e, com frequência, até mesmo para inferir a intenção do autor. Além disso, ele permite que o leitor se atenha apenas aos índices úteis e possa desprezar aqueles irrelevantes.
VERIFICAÇÃO
É uma estratégia que participa de todo o processo, pois a todo momento estamos checando se a seleção realizada, as hipóteses formuladas e as inferências feitas são adequadas.
ATIVAR CONHECIMENTOS PRÉVIOS
São os conhecimentos que adquirimos ao longo da vida e que carregamos para o ato de leitura.
O TEXTO NA ERA DIGITAL
O texto digital, apesar da semelhança com o texto impresso, tem suas especificidades. O leitor de textos digitais procura informações rápidas de serem consumidas. Além disso, a divulgação de notícias deve ser imediata, podendo ser atualizada constantemente.
Para melhor compreensão, os parágrafos devem ser curtos e independentes, ou seja, não podem depender de outros parágrafos para serem compreendidos. Além disso, é importante o uso de links, que permitem ao leitor transitar por temas similares ou complementares.
TIPOS DE LEITORES
Existem 3 tipos de leitores que são:
EXPLORADORES
Aqueles que navegam por vários assuntos, selecionando alguns e descartando outros, conforme seu interesse. Leem por prazer.
USUÁRIOS
COAUTORES
No mundo corrido do dia a dia e com as informações ficando “velhas” a cada segundo, é fundamental que tenhamos certa agilidade no escrever e que a mensagem seja compreendida rapidamente para que a comunicação flua com a velocidade que a internet nos impõe.
Mas será que a internet está afetando nossa capacidade de leitura? Os temas são abordados de forma superficial? Até que ponto a imensa quantidade de artigos e informações à disposição na internet é um fator positivo? Os textos proporcionam fortes reflexões a respeito de determinado assunto? Ou será que acabam dificultando a concentração na leitura de textos maiores?
São muitas as perguntas, não é mesmo?
O grande problema não está na carência de informações encontradas na internet, mas sim, na qualidade delas, pois muitas vezes os temas são tratados de forma superficial. As leituras não são aprofundadas, limitando a capacidade de processar.
Assim, o poder de concentração e disciplina que são exigidos para leitura de livros torna-se algo complexo, o que acaba desestimulando o gosto e o prazer por leituras mais densas.
Não por acaso, segundo a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro (2016) o Brasil apresentou 104 milhões de leitores no que diz respeito a livros impressos. Esses números demonstram que a internet não é uma "má" influência sobre os hábitos de leitura do brasileiro. E o número de leitores supera o de não leitores. Esse é um dado relevante, mas precisa aumentar.
A aceleração da comunicação na internet favoreceu a leitura e a escrita, proporcionando um contato maior das pessoas com atividades envolvendo o ato de escrever. Os e-mails e sites de relacionamento fizeram a escrita tornar-se parte do cotidiano de muitos.
O Twitter é uma rede social que oferece um espaço de 280 caracteres para o usuário postar sua mensagem. A grande importância do Twitter para esse tema é sua contribuição à concisão. Expressar-se e transmitir uma ideia, opinião em até 280 caracteres. Imagine que quando o Twitter foi lançado, cada mensagem poderia ter até 140 caracteres. Haja concisão!
A leitura na internet não é um comportamento solitário. Há vários recursos de interação que nos possibilitam fazer comentários, críticas e observações, obrigando-nos à elaboração de textos para defender nossas ideias.
Apesar da internet não ter favorecido uma cultura letrada, ela não deixa de ser responsável pelo reforço que a palavra escrita vem apresentando no dia a dia das pessoas. Dessa forma, não pode, de forma alguma, ser ignorada como excelente ferramenta de transformação nos atos de leitura e de escrita.
Agora que você aprendeu as principais estratégias de leitura e interpretação de textos, no próximo capítulo veremos a importância da coesão textual na construção do sentido.
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