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Tipos de Coerência Textual

Coerência textual é aquilo que faz com que um texto nos pareça “lógico”, consistente, aceitável e com sentido. Relaciona-se com conhecimentos e informações.

foto de uma mulher branca com cabelo preto, por volta de seus  50 anos, escrevendo num bloco de anotações enquanto toma um café, em sua casa; sobre a mesa, uma xícara de café, um iPhone e um notebook; ao fundo uma paisagem natural de arvores.

Ou seja, um texto só poderá ser considerado coerente se fizer sentido para o leitor, onde o mesmo estabelece sentidos ao texto com base em seu conhecimento de mundo e nas pistas deixadas pelo autor.


O conjunto dessas pistas é aquilo que vimos no capítulo anterior: a coesão. Dessa forma, podemos perceber que coesão e coerência são dois mecanismos que normalmente caminham lado a lado, pois reconstruir a coerência de um texto é responsabilidade do leitor, mas para isso precisa de ajuda do autor por meio dos mecanismos de coesão.


Coerência Semântica

Diz respeito à relação entre significados dos elementos das frases em sequência, em um texto, ou entre os elementos do texto como um todo. Para que a coerência semântica esteja presente, é preciso que ele não seja contraditório. Para detectar uma incoerência, devemos fazer uma leitura cuidadosa. Exemplo: A televisão transmite lazer. Na verdade, a televisão não transmite, mas proporciona lazer.



Coerência Sintática

Oração escreve uma coerência assim sintática, a mesmo ninguém não que conheça

Não deu para entender? Pois é, mesmo que não conheça a coerência sintática, ninguém escreve uma oração assim. A Sintaxe é a parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase, bem como a relação lógica das frases entre si. Para isso, é preciso construir frases em que os elementos estejam dispostos na ordem correta. Está relacionada com a estrutura linguística, coesão, além da ordem dos elementos na oração, como também com a seleção das palavras etc.


Quando empregada, eliminamos estruturas ambíguas, bem como o uso inadequado dos conectivos.


Coerência Estilística

O estilo diz respeito à variedade linguística utilizada em um texto. Se você escolher a variedade padrão, é coerente que você a utilize em todo o texto. Não há sentido em começar um texto com uma linguagem formal e mudar para uma coloquial, concorda? A incoerência estilística não provoca prejuízos para a interpretabilidade de um texto, contudo, a mistura de registros deve ser evitada, principalmente nos textos não literários. Essa noção é necessária para explicar fenômenos de quebras estilísticas.


Coerência Programática

Você sabe o que é pragmática? A Coerência Pragmática trata-se da parte da Linguística que estuda o uso da linguagem, tendo em vista a relação entre os interlocutores e a influência do contexto comunicacional. Todos os textos, sejam eles orais ou escritos, devem obedecer à coerência pragmática. Quando você faz uma pergunta, por exemplo, a sequência de fala esperada é uma resposta. Quando você faz um pedido, é pragmaticamente impossível que simultaneamente você dê uma ordem. Quando essas expectativas são quebradas, temos um claro exemplo de incoerência pragmática.


É muito comum que se elaborem piadas a partir de incoerências pragmáticas: No balcão da companhia aérea, o viajante perguntou à atendente:

  • A senhorita pode me dizer quanto tempo dura o vôo de São Paulo à Lisboa?

  • Um momentinho.

  • Muito obrigado.

Para o viajante, a resposta obtida não pareceu nem um pouco incoerente. No entanto, “um momentinho” não é a resposta, é simplesmente um pedido de tempo para depois dar atenção ao viajante. Nós é que percebemos a incoerência da sequência e tomamos o conjunto como uma piada.


Portanto, um texto coerente, além de bem escrito, deve apresentar coerência:


Interna

  • Apresentar harmonia entre as ideias contidas no texto.

  • O tribunal, após breve deliberação, foi condenado a um mês de prisão.

  • Podemos perceber, no exemplo acima, que há uma incoerência interna, pois o tribunal não pode ter sido condenado a um mês de prisão, mas sim o réu.

Externa


Pode haver Coerência sem Coesão?

No início deste capítulo vimos que coesão e coerência normalmente caminham lado a lado, como se fossem condições inseparáveis. Mas não é sempre que isso acontece. Podemos ter um texto coerente sem que apresente elementos de coesão.


Para que seja compreendido, o texto deve ser inteligível, ou seja, ser coerente, mas não precisa, necessariamente, ser coeso.



Pode haver Coesão sem Coerência?

O melhor exemplo que tenho desse caso são algumas piadas que se constroem a partir de interpretações ambíguas. Normalmente, o desfecho dessas piadas aponta para uma situação incoerente, portanto engraçada.


Perceba que os enunciados das piadas apresentam as ideias bem “costuradas” por meio de mecanismos de coesão. Ao contá-las, as premissas são apresentadas de modo a encaminhar para determinada conclusão, mas somos surpreendidos ao final, quando nos apresentam desfechos surpreendentes e incoerentes.


Principais problemas relacionados à Coesão e à Coerência?

Ao analisar o enunciado “João mandou lavar o terno; amanhã ele tem uma entrevista”, comprovamos que a ausência de mecanismos coesivos não necessariamente leva à falta de coerência. Há situações, como essa, em que a relação entre as ideias está tão clara que o emprego de conectivos torna-se dispensável. Em geral, isso ocorre em duas situações: a segunda ideia explica a primeira – o fato de que João fará uma entrevista explica o porquê de ter mandado lavar o terno; a segunda ideia é uma consequência da primeira – é o que ocorre neste outro exemplo: “O combustível terá novo aumento amanhã. Há enormes filas nos postos” (as filas são consequência do aumento do combustível).


Falta de Mecanismos Coesivos

Há situações em que a relação entre as ideias é de outra natureza, nesses casos, precisamos explicitá-las. Veja um exemplo:


Proibir a venda de games considerados violentos fere a liberdade de escolha do consumidor. Não há pesquisas conclusivas que comprovem a influência negativa desses jogos sobre o comportamento das pessoas.


Ora, uma vez que ideias justapostas normalmente mantêm relação de explicação ou de causaconsequência, o leitor tende a estabelecer esse tipo de conexão quando se depara com um par delas. Nesse enunciado, porém, nenhuma das hipóteses se aplica: o fato de não haver pesquisas conclusivas comprovando a influência negativa dos games, não é uma explicação para o fato de que proibir sua venda fere a liberdade de escolha do consumidor; tampouco é uma consequência desse fato. Existe, sim, uma relação entre as ideias, mas ela é de outra natureza – trata-se de uma relação de adição, acréscimo: proibir a venda de games considerados violentos fere a liberdade de escolha do consumidor. Além do mais, não há pesquisas conclusivas que comprovem a influência negativa desses jogos sobre o comportamento das pessoas. Sem um marcador lógico, a clareza do enunciado ficaria prejudicada.


Excesso de Mecanismos Coesivos

Paradoxalmente, um segundo problema coesivo observado em textos de redatores iniciantes está relacionado não à falta, e sim ao excesso de marcadores. No afã de estabelecer ligações explícitas entre as ideias, esses autores usam e abusam dos conectivos; o resultado é um texto monótono, primário, com “cara de redação escolar”. Se os conectivos são colocados sempre na mesma posição dentro das orações, o efeito torna-se ainda pior. Veja um exemplo:


A bicicleta e o carro compartilham as mesmas vias.

Logo, um precisa respeitar o outro. Sendo assim, os motoristas devem manter a distância mínima de 1,5 metro do ciclista. Do mesmo modo, os ciclistas devem seguir as leis de trânsito. Por conseguinte, são obrigados a andar na mão correta e respeitar a faixa de pedestres. Finalmente, os ciclistas devem sinalizar com as mãos antes de trocar de faixa.


Emprego inadequado dos Mecanismos Coesivos

O terceiro problema mais comum relacionado à coesão é o emprego inadequado dos mecanismos coesivos – o que leva inevitavelmente à incoerência, já que o leitor é induzido a estabelecer uma falsa relação entre as ideias.

Veja alguns exemplos, com as respectivas correções:

​ Queria tanto falar com Débora, até mesmo porque não sei onde encontrá-la.

​Incoerente

​Não saber onde encontrar Débora só aumenta meu desejo de falar com ela.

​Coerente

​É muito comum os jovens falarem sobre a conquista da liberdade, sendo que muitos deles não sabem o verdadeiro sentido dessa palavra.

​​Incoerente

​É muito comum os jovens falarem sobre a conquista da liberdade, porém, muitos deles não sabem o verdadeiro sentido dessa palavra.

​​Coerente

​Embora seja eficiente e econômica, a energia nuclear pode provocar terríveis acidentes, com consequências gravíssimas para toda a população do entorno.

​​​Coerente

​A energia nuclear não apenas é eficiente e econômica: pode provocar terríveis acidentes, com consequências gravíssimas para toda a população do entorno.

​​​Incoerente

Uso de Mecanismos Coesivos para disfarçar a Ausência de Coerência

Por fim, o quarto – e talvez mais comum – dos principais problemas relacionados à coesão e à coerência diz respeito àquelas situações em que os mecanismos coesivos são usados apenas para disfarçar a falta de coerência do texto.


Em outras palavras: o autor trabalha somente a “superfície” dos enunciados, organizando-os e relacionando-os de um modo aparentemente lógico; contudo, quando o leitor vai além da superfície, percebe que as ideias não formam um todo coerente. Vejamos um exemplo:


Com a substituição do contato pessoal pelo virtual, a nova geração está se tornando cada vez mais agressiva e intolerante. Para muitos jovens, a possibilidade de opinar anonimamente na Internet é um convite à ofensa gratuita. Há quem entre em páginas de artistas que não lhe agradam apenas para escrever comentários desrespeitosos, por exemplo. Mas a verdade é que sempre existiram adolescentes de mal com o mundo, prontos para descarregar sua metralhadora giratória contra tudo e contra todos. As “más-criações” e a rebeldia (ainda que sem causa) são uma maneira de o jovem afirmar sua identidade perante o mundo adulto. Em suma: ao contrário do que muitos dizem, a juventude de hoje não é pior que a de outras épocas.




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